RIO - Quem mandou o presidente dos Estados Unidos estar separado do maior terrorista da História mundial apenas por um erro de digitação? Pois a gafe cometida pela Fox News - que, ao noticiar a morte de Osama bin Laden, colocou no ar "Obama bin Laden morreu" - espalhou-se. O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, também trocou os nomes. No Twitter, a confusão rendeu centenas de posts e até um link com imagens da rede de TV americana CNN anunciando a morte de Bin Laden com a frase "Por dentro do complexo de Obama".
Quando Steffen Seibert, jornalista há pouco tempo locutor do canal ZDF e atual porta-voz do governo alemão, divulgou na internet uma declaração da chanceler alemã Angela Merkel, disse: "Obama, responsável pela morte de milhares de inocentes, escarneceu os valores do Islã e de todas as religiões". Depois, Seibert corrigiu o erro - que, a essa altura, já estava sendo divulgado no Twitter, assim como ocorreu com a gafe da Fox.
Também no Twitter, os internautas continuaram não perdoando as gafes e a semelhança de nomes. O usuário @Joydas mandou: "Não confunda Obama com Osama. Um é o líder de um grupo terrorista, o outro está no fundo do mar". Já @AJBK21 brincou com o trendtopic "#Obamasdead": "#Obamasdead. Oops quis dizer #Osamasdead". E @SororityProblem tentou decorar: "Preciso evitar a confusão Obama/Osama... Preciso evitar a confusão Obama/Osama".
A confusão rendeu ainda muitos retweets de um artigo chamado "The 5 worst RT Obama/Osama mix-ups in the media", ou "As cinco piores confusões de Obama/Osama na mídia". Assinado por Kevin Allen, o texto lista o que seriam gafes de veículos de comunicação na noite de domingo e na tarde de segunda-feira. Uma delas: na MSNBC, a correspondente Norah O'Donnell mandou via Twitter que Obama tinha sido baleado e morto.
Outra gafe listada traz um vídeo, uma transmissão da rede CNN sobre a morte de Bin Laden com a frase "Inside Obama's Compound" ("Por dentro do complexo de Obama"). Outras duas gafes da lista de Allen são as da Fox e uma afiliada, que noticiaram "Presidente Obama está morto" e "Obama bin Laden morto". E, fechando a lista, Allen destaca que o site Gizmodo publicou uma imagem do site da BBC News que afirmava "Obama morto".
Mas, mais do que uma troca de letras, a confusão de nomes pode ter significados políticos, afirma o psicanalista Chaim Katz:
- É muita coincidência que várias pessoas tenham esse ato falho. É pegar o grande terrorista e o grande americano, duas grandes figuras de lados opostos, e aproximá-las. Agora, os motivos para isso podem ser o fato de que ideias opostas se atraem, há um estudo do Freud de que as palavras "alto" e "baixo" têm mesma raiz; e também o reflexo do modo como as pessoas veem a ação dos EUA no território dos outros, que seria, assim, comparada à ação terrorista.
Joel Birman, psicanalista e professor da UFRJ e da Uerj, diz não ter dúvidas de que a confusão de nomes, pelo menos em setores da mídia americana contrários ao governo Obama - caso da Fox -, seria uma forma de crítica. Ainda que inconsciente.
- Desde que Obama assumiu, setores da mídia mais ligados aos republicanos têm feito acusações como a de que Obama não seria americano, ou que ele teria origens muçulmanas. Essa confusão é uma forma de, pelo ato falho, marcar isso e atacar sua legitimidade. Ainda mais no momento em que ele consegue essa vitória política que os republicanos não conseguiram. A gente pode até pensar nesse "lapso de língua" como uma forma de os opositores de Obama desejarem sua morte - destaca Birman. - Além disso, quando a gente se desloca da política doméstica para a internacional, esse lapso é, também, uma forma de aproximar a prática do Estado americano de caçar inimigos em guerras com um ato terrorista.
*COLABOROU: Graça Magalhães-Ruether, de Berlim
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